quarta-feira, 14 de julho de 2010

Terça-feira

Tinha tudo para ser um dia normal, aula de manha, à tarde trabalho. Mas se não fosse por aquela sensação, quase imperceptível, mas que incomodava. Aquela pulga atrás da orelha, uma sensação que aquele dia seria diferente. Bobagem, uma terça-feira qualquer que sequer chovia. Tudo normal até o almoço, por algumas horas até esqueceu da sensação desconfortável. A comida desceu estranha, parece que veio com mais força a sensação. Nunca teve aquilo antes, certa expectativa. Não era boa, nem era ruim. Foi para o trabalho prestando atenção em cada detalhe, começava a acreditar a esperar alguma coisa, no entanto, não sabia o que. No trabalho tudo normal, concentrada, esqueceu mais uma vez. Lembrou indo para casa, no transito. Parou no sinal, ficou com o olhar longe, apreciando aquele sentimento. Respirou fundo e avançou com o carro, nem viu se o sinal estava aberto. Não estava. Simplesmente avançou no sinal vermelho. Andou poucos metros, ainda distraída, quando um carro que estava passando no cruzamento não conseguiu frear a tempo e bateu. Desmaiou com a batida. O rapaz do carro que bateu foi o primeiro a socorrê-la. Com muita dor abriu os olhos e a primeira imagem que viu, foi o rosto dele. Um rosto como nunca viu antes, parecia tão perfeito, apesar do ferimento leve na testa. Era sem duvida um rosto apaixonante, aquele rosto que só era possível ser visto em sonhos. Um rosto indecifrável. Apesar de não saber o que estava aontecendo, sorria, com um entusiasmo de quem encontrou o verdadeiro amor, mas logo, sem resistir desmaiou novamente. O rapaz lhe tirou do carro e a levou no colo até a ambulância, ignorando a maca. Chegando lá, os médicos trataram dos primeiros socorros, mas estava perdendo muito sangue, a perna tinha quebrado e a fratura estava exposta. Levaram-na logo para o hospital. Precisava urgente de um doador de sangue. Ele, então, que no corredor, esperava ansioso, recebeu a noticia da gravidade do problema. Prontamente se ofereceu para ser o doador. No carro não tinha nenhum documento dela, tinha deixado tudo no serviço, não tinha como comunicar a família. Naquele momento ele era a única pessoa que se importava com ela.
Acordou depois de um longo sono, a sensação era que tinha sido atropelada por um caminhão. Sua mãe rezando ao lado da cama viu que ela se mexia e a abraçou, então, explicou o que aconteceu naquela tarde de terça – que se quer chovia – Deitada na cama, perguntou onde estava o rapaz que tão gentilmente lhe prestou socorro. O rapaz que tinha dominado seu sono forçado por remédios, aparecendo em seus sonhos com aquele rosto inesquecível. Depois de ver que ia ficar bem foi embora, não deixou nome, não perguntou o nome, não deixou endereço, não perguntou o endereço. Como um cavalheiro, perguntou se estava tudo bem e foi embora. Foi embora à causa de toda a expectativa.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Simplesmente, não existe.

Às vezes penso se tudo que vivemos é concreto. Às vezes, se tudo não passa de uma breve ilusão. Claro que tudo é ilusão, uma ilusão tão real, que nos faz acreditar em coisas reais. Vivemos essa ilusão intensamente e esquecemos. Esquecemos que não podemos acreditar. Não podemos nos basear não podemos nos apegar em coisas, até então, por nossos pensamentos, classificadas como coisas reais. Então tudo é ilusão. Tudo não passa de ilusão. Quando eu sinto, quando eu penso, quando estou agindo. Tenho que me lembrar antes de me apaixonar que tudo é ilusão. Não viver aquilo com verdade, sentir por sentir, me apegar, jamais. Devo lembrar que existo apenas para fazer coisas que me dêem prazer. Para que acreditar, se é mentira? Para que sentir, se não existe? Para que pensar, se é inimaginável? Para que amar, se é ilusão?

terça-feira, 29 de junho de 2010

Engano

Ansiosa para tomar aquela decisão, desde a penúltima aula. Pensava se ligava ou não para ele. Imaginando as possíveis respostas ou diálogos, do que seria, talvez, naquele momento, a ligação mais importante de sua vida, tentando imaginar a voz no telefone, aquela voz, que nem mesmo, ruídos no telefone ameaçava a suavidade que lhe conquistara. Claro que diretamente, seria só uma ligação, não iria mudar sua vida, mas não era esse o sentimento essa altura, o frio na barriga, os olhos no relógio, a hora não passava. O sinal toca. Ultima aula, o momento se aproxima, o numero dele é o primeiro na lista de ligações feitas, não que ela já tenha ligado, mas, as vezes que digitava o número e colocava no ouvido tentando sentir alguma coisa que não sabia o que era, talvez, tentando ensaiar uma falsa coragem para apertar o botão verde. De hoje não passa, a primeira frase já estava ensaiada. Tudo certo, ele pediu para anotar o telefone, então queria que ligasse. Para ela não era fácil aquela situação, todas as duvidas lhe apareciam. Na volta para casa dizia: ”se passar de três toques eu desligo”, não queria incomodar, queria apenas, alegrá-lo, quem sabe convidá-lo para sair ou só escutar a voz, a tão suave voz. Chegou em casa, jogou a bolsa em um canto, o celular já em mãos, trancou a porta do quarto, queria apreciar o momento, digitou o número... Ligou, “chamando Roberto” dizia na tela. Primeiro toque... nada. Segundo toque... Nada. Terceiro toque, o coração batia mais forte, os olhos fechados... Atendem:
- Alô!
- Alô, Roberto?
- Não, Junior.
- Esse não é o celular do Roberto?
- Não.
- Ah! Desculpa, foi engano.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Encontro

-Oi
-Tudo bem?
-Tudo, e você?
-To bem, quanto tempo.
-Pois é, acho que não nos vemos desde a festa da Cris, na chácara.
-É verdade, aquela foi a ultima vez. Mas, você mudou bastante...
-Você achou mesmo? Engraçado, não mexi em nada. (breve sorriso)
-O cabelo, bom... Não sei.
-Mas e aí, como você esta?
-Ah, como sempre, trabalhando, trabalhando, nos dias de hoje não fazemos nada muito além, ás vezes rola um relacionamentinho aqui outro ali, nada duradouro, acho que isso é que move a vida dos solteiros, como nós, esses breves relacionamentos que nos enchem de esperança, mas daqui um mês, mais ou menos, acaba tudo.
-Você tem razão sabia. O que me incomoda mesmo são os encontros depois, fica aquele silêncio, ninguém sabe o que diz como o que esta acontecendo com nós dois, agora.
-Se você não me falasse nada eu não iria comentar, sei lá... A hipocrisia de ainda acreditar que aquela pessoa repara em nós, que, de certa forma, causaríamos algum sentimento de nostalgia, que, por estarmos sentindo queremos que todos sintam. Por mais longo o relacionamento, se houve amor ou não. Acabou. Nenhum dos dois procurou o outro, claro, isso não é prova de que foi bom, mas se durou, houve sexo, mais de uma semana juntos, foi bom.
-Concordo plenamente, mas acho que se estava sendo bom, algum erro teve para ter acabado, nada é para sempre, eu sei, mas, você não acha que poderia dar certo?
-“vivemos disso”, breves relacionamentos, breves palavras, breves lembranças, breves pensamentos e por que não dizer, uma breve vida.
-Poxa! Você sempre me impressionando.
-Imagina! Eu já te disso isso milhões de vezes.
-Então, Acho que é isso, a hipocrisia cotidiana me espera, tchau!
(beijo no rosto)
-Tchau!
-Ah! Teria sim dado certo. Quem sabe um dia?
-Quem sabe...